5 de outubro de 2012

2012/2013 - Liga Europa - Académica 1 - Hapoel 1


nº espectadores: 5667
nota ao árbitro:  Stephan Struder: 3
melhor do Hapoel: Damari
melhor da Académica: Ricardo

Crónica Maisfutebol


Depois da primeira vitória de domingo, a Briosa parecia ter-lhe tomado o gosto. Esteve prestes a casar a exibição com o resultado, mas, mais uma vez, a experiência falou mais alto. Com meia-dúzia de oportunidades para fazer o 2-0, a equipa de Pedro Emanuel acabou por sofrer o empate no último minuto.

Depois de 41 anos sem jogo europeus, Coimbra engalanou-se para a ocasião (que pena não ter havido mais público...), e a Académica correspondeu com uma exibição em crescendo, que culminou com um início de segunda parte avassalador, mas perdulário. Demasiado, até. E foi castigada por isso no fim.

O receio mútuo dominou os primeiros instantes do jogo, com ambas as equipas pouco dispostas a correr riscos no ataque. A postura expetante dos israelitas em nada favorecia uma Briosa que talvez preferisse dar a iniciativa ao adversário para poder contra-atacar.

O problema é que o Hapoel não queria pegar na oferta e, desta forma, tiveram de ser os estudantes a tomar as rédeas da partida. Primeiro timidamente, mantendo sempre muita gente atrás para se precaver de alguma reação mais afoita do adversário, os homens de Pedro Emanuel foram crescendo em confiança com o tempo.

Não fosse uma fuga de Tamuz pela direita, concluída com uma defesa atenta de Ricardo para canto, e os hebreus quase não teriam causado perigo na primeira parte. Ao invés, a Briosa, quando se deixou de respeitos excessivos, soube acercar-se da baliza de Apoula e tentar os reflexos do nigeriano naturalizado arménio.

João Dias deu o mote, com um grande remate de pé esquerdo, seguindo-se mais uma iniciativa aflitiva para os forasteiros, e um outro tiraço de John Ogu. Estava, definitivamente, descoberto o caminho para o golo. Só faltava percorrê-lo até ao destino.

Dito e feito. A Académica deve ter-se fartado tanto de olhar para os galões israelitas que voltou dos balneários disposta a ver até onde a fama poderia não corresponder ao proveito. Quase como se fosse fácil, Marinho e Cissé desenharam o lance de um golo digno dos manuais do bom futebol.

Avalancha ofensiva, por fim

O guineense concluiu o cruzamento com um remate à meia-volta que levou o estádio ao rubro e colocou, diga-se, toda a justiça no resultado. O que se seguiu poderia parecer impensável para muitos, sobretudo para os de Israel, mas aconteceu.

A Velha Senhora, como carinhosamente lhe chama a Mancha Negra, reduziu o Hapoel a um grupo de bons rapazes, incapazes por vezes de cruzar o próprio meio-campo, tal a avalancha ofensiva que a equipa portuguesa resolveu desencadear.

Marinho visou os ferros, Cleyton fez o mesmo, Apoula teve de usar de todos os recursos noutras ocasiões, em suma, os estudantes «cheiraram» de narinas bem abertas todos os aromas do segundo golo que, muito provavelmente, arrumaria o encontro e colocaria 200 mil euros nos cofres do clube. Não aconteceu.

A fúria coimbrã não poderia durar para o resto do jogo e, naturalmente, a equipa recuou um pouco as linhas, na exata medida em que os israelitas foram colocando mais elementos na frente.

Nesta altura, veio ao de cima o melhor de Ricardo, um par de defesas preponderantes, mas também o desperdício de Wilson Eduardo, que, de outra forma, teria colocado ainda mais verdade no desfecho final. Em vez disso, no canto do cisne, Damari, o melhor marcador do Hapoel, deu cabo do sonho estudantil. Tremenda injustiça, mas a experiência internacional também é isto.


Destaques


A figura: Marinho

O pequeno dos grandes momentos. Uma assistência para golo e uma bola ao ferro, mais umas quantas iniciativas e, quase no final, o aplauso, com muitos adeptos de pé: assim se resume a passagem do talentoso extremo pelo relvado do Cidade de Coimbra. Por tudo o que fez, merecia a vitória.

Outros destaques:

Salim Cissé

Há poucos meses era um simples miúdo fugido de África, perdido na quarta divisão italiana, à procura de um futuro melhor. Mas desde que começou a época na Académica, o avançado de 19 anos vê a sua cotação subir em flecha. «Roubou» a titularidade a um internacional, como Edinho, e faz por merece-lo. O golo que marcou esta quinta-feira, é digno de figurar nos mais exigentes compêndios de futebol. Foi mais do que um remate, foi um verdadeiro espetáculo, um daqueles momentos de levantar qualquer estádio.

Ricardo

Sem muito trabalho até ao último quarto-de-hora de jogo, o guarda-redes português foi fundamental num par de lances em que tudo parecia perdido. Elástico, atento, sereno, irritou os israelitas ao máximo. Só não pode fazer milagres e aquele cabeceamento de Damari era impossível de defender.

Ferreira e Ferreira, firma para o sucesso

Que jogo personalizado de Reiner Ferreira, sempre autoritário, sóbrio e agressivo quando foi preciso. Mas o que dizer o companheiro de lado, também Ferreira, o Flávio, jovem capitão desta equipa irredutível de Coimbra? Que dupla magnífica, quase perfeita, que defendeu com unhas e dentes a baliza de Ricardo, até ao golpe traiçoeiro de Damari.

Hélder Cabral

Outro jogador com uma exibição digna de todos os encómios. Um lince a subir pelo flanco esquerdo e um leão a fechá-lo a qualquer «inimigo». E aquele livre em arco que quase deu o segundo?

Apoula

Quando um guarda-redes merece destaque, está praticamente tudo dito. Camaronês naturalizado arménio, para ser internacional, o guardião do Hapoel foi o melhor elemento da formação israelita, com um punhado de grandes defesas.

Tamuz

Referência máxima do Hapoel no ataque, este nigeriano naturalizado israelita deu nas vistas logo no início do jogo com uma fuga pela direita que semeou o pânico na defesa da casa. Ricardo estava lá, para o que desse e viesse, mas o avançado mostrou ter boa movimentação e pés de veludo.


Opiniões


Pedro Emanuel, treinador da Académica, no final do empate frente ao Hapoel Telavive, para Liga Europa, esta quinta-feira, em Coimbra:

«Dececionante? Não. Sinceramente, gosto de fazer uma análise global. O que tínhamos prometido aos adeptos, que era dar uma boa imagem do nosso real valor, foi plenamente conseguido. Estou com esta cara triste pelos jogadores, mas contente pelo que fizeram, que foi em tudo superior ao que fez o Hapoel. O resultado peca por escasso para o nosso lado.

Estou plenamente satisfeito pela exibição da equipa e pelo prazer de presentear toda a gente que veio ao estádio com este espetáculo. Estamos orgulhosos por isso. Ainda nos falta muito, mas o caminho faz-se assim, caminhando.
Foi uma exibição dentro do planeado, analisámos bem o adversário, que vinha de um momento conturbado, com a mudança de treinador, e poderiam estar um pouco fragilizados. Começamos de forma um pouco temerosa, mas fomos soltando das amarras e merecíamos outro resultado.

É claro que os jogadores vão levar uma pancada, por sofrerem o golo no último minuto, depois de 41 anos sem jogos destes em Coimbra, mas são estes momentos que nos levam a crescer. É com isto que se adquire a experiência. Vamos guardar que poderíamos ter feito o dois, três, ou quatro a zero, e acabámos por sofrer o empate. O futebol é fértil nestas situações. Amanhã será mais difícil, mas, sábado, já estaremos bem.»



Yossis Abukasis, treinador do Hapoel Telavive, no final do empate com a Académica, esta quinta-feira, em Coimbra, para a Liga Europa:

«A Académica começou por marcar, teve várias oportunidades, mas nós também, pelo que o golo que conseguimos fazer no final acaba por ser merecido. Foi muito importante para nós marcar, pois, em simultâneo com o resultado do Atlético, isso permite às três equipas, nós, o Plzen, e a Académica, manterem-se na corrida pelo segundo lugar. O grupo continua em aberto para o lugar a seguir ao do Atlético de Madrid.»



Makelele, no final do empate com o Hapoel, esta quinta-feira, em Coimbra, para a Liga Europa:

«Foi frustrante, estivemos bem no jogo, fizemos uma excelente partida, que até teria dado para golear, mas é assim mesmo. Quem não faz, toma e pagámos o preço no final. É natural que nos tivéssemos sentido cansados, corremos muito e fizemos uma boa exibição, e, na parte final, acusámos isso. Corremos atrás, a todo o momento e instante, mas faltou-nos um pouco de paciência para segurar a bola no fim. Não pode acontecer mais este erro. Conseguir aqui os três pontos teria sido maravilhoso para a nossa caminhada. A nossa briga não é com Atlético, mas com o Hapoel e os checos, mas agora temos de somar pontos em Madrid...»




Wilson Eduardo, jogador emprestado pelo Sporting à Académica, comentou a situação de Sá Pinto, no final da partida que resultou num empate 1-1, diante do Hapoel, esta quinta-feira, em Coimbra:

«Sobre a situação do treinador do Sporting não tenho nada a dizer, a direção do clube é que sabe.»

[Sobre o jogo]«Penso que toda a gente viu que a Académica foi a única equipa que procurou a vitória durante o jogo todo. Tivemos mais do que uma oportunidade para fazer o 2-0, e como se costuma dizer quem não marca sofre. E foi o que aconteceu na parte final, num lance infeliz para nós. Hoje, todos os jogadores saíram com sentimento de frustração porque tínhamos ao nosso alcance uma noite histórica, para a cidade e para o clube. Tínhamos tudo para conquistar os três pontos mas isso não foi possível. Agora há que levantar já cabeça para o próximo jogo.»



Flávio, capitão da Académica, comentando a frustração da equipa depois de deixar escapar a vitória sobre o Hapoel nos últimos minutos da partida, esta quinta-feira, em Coimbra:

«Estivemos a ganhar, controlámos o jogo todo, e depois nos últimos dez minutos a equipa partiu um bocadinho. Infelizmente, sofremos o golo no último minuto, o que é frustrante para nós porque tínhamos a vitória ao nosso alcance. Não podemos desculpar o resultado só com o cansaço. Devíamos ter-nos organizado melhor, mas não o conseguimos fazer. E podíamos ter matado o jogo antes, mas sofremos o golo do empate.

[Sobre a influência do resultado no ânimo da equipa] «Nós, na Liga Europa, somos outsiders e qualquer bom resultado que a equipa obtenha será sempre de assinalar. Porém, o nosso foco é o campeonato e é aí que nos vamos concentrar. Provámos nos Barreiros que somos uma equipa competente, e agora queremos dar continuidade ao bom trabalho que temos vindo a desenvolver. Ainda não perdemos no campeonato, mas o que queremos mesmo é ganhar, e é com esse intuito que vamos para o jogo com o V. Guimarães.»

[Sobre a quantidade de jogos tão próximos uns dos outros] «Temos um grupo de trabalho grande, com jogadores de qualidade, e todos podem ser úteis à equipa. Cabe agora ao treinador fazer a gestão do plantel.»

[Sobre a fraca afluência de público] «Sabe a pouco o número de adeptos que compareceram no estádio. Mas aqueles que vieram estiveram do nosso lado do primeiro ao último minuto e nunca nos deixaram ir abaixo. A eles é que temos de agradecer e pedir que nos continuem a apoiar, porque são uma parte importante no nosso trabalho.»


Marinho, autor da assistência para o golo de Cissé, que de pouco valeu esta quinta-feira frente ao Hapoel, uma vez que a Académica acabaria por consentir o empate no último minuto:

«É aquele sentimento que ninguém gosta de ter, a frustração de, depois de dominar todo o jogo, acabar por sofrer um golo no último minuto, que nos deixa fora do objetivo, que era a vitória. O futebol é assim mesmo. Temos de levantar a cabeça, o próximo jogo está já ai. Sabíamos que tínhamos de estar no nosso melhor para os vencer e a verdade é que as vitórias moralizam e trazem confiança. Fizemos um bom jogo, mas acabamos por ficar com a sensação que parece que não valeu a pena. Acabámos por morrer na praia. Tivemos três ou quatro ocasiões claríssimas, não marcámos, e, no último lance do encontro, sofremos o empate. Há que seguir em frente, mas o nosso principal objetivo é o campeonato. Queremos desfrutar da competição, não querendo ser bombos da festa.»



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